Reportagem Quilombolas - Comunidade São João


segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Laurindo Gomes – Quilombo de Praia Grande/Iporanga/SP



C O N V I T E



ATO PÚBLICO em repúdio ao desaparecimento do companheiro Laurindo Gomes – Quilombo de Praia Grande – Iporanga e contra outras tantas ameaças que os Povos Tradicionais do Vale do Ribeira estão sofrendo.

DIA: 18 de novembro
HORÁRIO: 14 às 16 horas – LOCAL: Iporanga – Vale do Ribeira/SP

Estão convidadas as Comunidades, Associações, Entidades, Igrejas... Trazer faixas, cartazes, cantos, não esquecendo que uma das ameaças que paira sobre o Vale, é o projeto de construção de Barragens.
O ATO terá como tema central: “A OMISSÃO DO ESTADO CONTINUA GERANDO VIOLÊNCIA AOS POVOS TRADICIONAIS DO VALE DO RIBEIRA.”
         Contamos com a participação e apoio de todas as pessoas que repudiam a violência.
         Equipe de Coordenação.

          Informações:
(13) 3871-1877   
E-mail: eaacone@bol.com.br            
              moabaxe@bol.com.br           
(15) 3556-1521 ou (15) 9747-6738
E-mail: prosanaserra@gmail.com

      “Não declare que as estrelas estão mortas só porque  o céu está nublado”                           

sábado, 29 de outubro de 2011

Populações atingidas por Belo Monte ocupam canteiro e fecham transamazônica

Cerca de 300 indígenas, pescadores e ribeirinhos da bacia do Xingu estão acampados pacificamente, desde a madrugada de hoje, no canteiro de obras de Belo Monte pela paralisação das obras da usina, em Altamira (PA).
Cerca de 300 indígenas, pescadores e ribeirinhos da bacia do rio Xingu estão acampados pacificamente, desde a madrugada de hoje, no canteiro de obras de Belo Monte para exigir a paralisação das obras da usina hidrelétrica, em Altamira, no Pará. A rodovia Transamazônica, na altura do quilômetro 50, também foi interditada. O protesto não tem prazo para terminar.
“Diante da intransigência do governo em dialogar e da insistência em nos desrespeitar, ocupamos a partir de agora o canteiro de obras de Belo Monte e trancamos seu acesso pela rodovia Transamazônica. Exigimos que o governo envie para cá um representante com mandado para assinar um termo de paralisação e desistência definitiva da construção de Belo Monte”, diz a declaração dos Povos do Xingu contra Belo Monte.
“Belo Monte só vai sair se cruzarmos os braços. Não podemos ficar calados. Temos que berrar e é agora”, disse Juma Xipaia, liderança indígena Xipaia, uma das etnias afetadas por Belo Monte. “Somos guerreiros e não vamos pedir nada ao governo, mas exigir o que a Constituição nos garante. Nossos antepassados lutaram para que nós estivéssemos aqui. Já foram feitos vários documentos, várias reuniões e nada mudou. As máquinas continuam chegando”.
“É uma vergonha a maneira como nosso próprio governo nos tratou, com contínuas mentiras e negando-se ao diálogo com as comunidades afetadas”, disse Sheyla Juruna, liderança indígena do Movimento Xingu Vivo Para Sempre, que foi para Washington participar de uma reunião promovida pela Comissão interamericana de Direitos Humanos. “Estou horrorizada por ver como somos tratados em nossa própria terra sem ter sequer o direito de sermos consultados sobre esse horroroso projeto”, acrescentou durante coletiva na sede da OEA. Convocado pela CIDH para se explicar sobre Belo Monte, o governo brasileiro se negou a participar.
Veja abaixo a nota do seminário e da ocupação de Belo Monte
Declaração da Aliança do Xingu contra Belo Monte
“Não permitiremos que o governo crie esta usina e quaisquer outros projetos que afetem as terras, as vidas e a sobrevivência das atuais e futuras gerações da Bacia do Xingu”
Nós, os 700 participantes do seminário “Territórios, ambiente e desenvolvimento na Amazônia: a luta contra os grandes projetos hidrelétricos na bacia do Xingu”; nós, guerreiros Araweté, Assurini do Pará, Assurini do Tocantins, Kayapó, Kraô, Apinajés, Gavião, Munduruku, Guajajara do Pará, Guajajara do Maranhão, Arara, Xipaya, Xicrin, Juruna, Guarani, Tupinambá, Tembé, Ka’apor, Tupinambá, Tapajós, Arapyun, Maytapeí, Cumaruara, Awa-Guajá e Karajas, representando populações indígenas ameaçadas por Belo Monte e por outros projetos hidrelétricos na Amazônia; nós, pescadores, agricultores, ribeirinhos e moradores das cidades, impactados pela usina; nós, estudantes, sindicalistas, lideranças sociais e apoiadores das lutas destes povos contra Belo Monte, afirmamos que não permitiremos que o governo crie esta usina e quaisquer outros projetos que afetem as terras, as vidas e a sobrevivência das atuais e futuras gerações da Bacia do Xingu.
Durante os dias 25 e 26 outubro de 2011, nos reunimos em Altamira para reafirmar nossa aliança e o firme propósito de resistirmos juntos, não importam as armas e as ameaças físicas, morais e econômicas que usaram contra nós, ao projeto de barramento e assassinato do Xingu.
Durante esta última década, na qual o governo retomou e desenvolveu um dos mais nefastos projetos da ditadura militar na Amazônia, nós, que somos todos cidadãos brasileiros, não fomos considerados, ouvidos e muito menos consultados sobre a construção de Belo Monte, como nos garante a Constituição e as leis de nosso país, e os tratados internacionais que protegem as populações tradicionais, dos quais o Brasil é signatário.
Escorraçadas de suas terras, expulsas das barrancas do rio, acuadas pelas máquinas e sufocadas pela poeira que elas levantam, as populações do Xingu vem sendo brutalizadas por parte do consórcio autorizado pelo governo a derrubar as florestas, plantações de cacau, roças, hortas, jardins e casas, destruir a fauna do rio, usurpar os espaços na cidade e no campo, elevar o custo de vida, explorar os trabalhadores e aterrorizar as famílias com a ameaça de um futuro tenebroso de miséria, violência, drogas e prostituição. E repetindo assim os erros, o desrespeito e as violências de tantas outras hidrelétricas e grandes projetos impostos à força à Amazônia e suas populações.
Armados apenas da nossa dignidade e dos nossos direitos, e fortalecidos pela nossa aliança, declaramos aqui que formalizamos um pacto de luta contra Belo Monte, que nos torna fortes acima de toda a humilhação que nos foi imposta até então. Firmamos um pacto que nos manterá unidos até que este projeto de morte seja varrido do mapa e da história do Xingu, com quem temos uma dívida de honra, vida e, se a sua sobrevivência nos exigir, de sangue.
Diante da intransigência do governo em dialogar, e da insistência em nos desrespeitar, ocupamos a partir de agora o canteiro de obras de Belo Monte e trancamos seu acesso pela rodovia Transamazônica. Exigimos que o governo envie para cá um representante com mandado para assinar um termo de paralisação e desistência definitiva da construção de Belo Monte.

sábado, 16 de julho de 2011

Quilombolas de Caçandoca/Caçandoquinha terão casas demolidas

Olá a todos
Nesta quarta feira fomos novamente surpreendidos pela Polícia Federal,Oficiais de Justiça e INCRA, em nossa comunidade de posse de intimações alegando um despacho (em anexo) da Juíza Mariza Vascolensos da 1ª Vara da Justiça Federal de Taubaté, que alega que invasores ocuparam a área do Quilombo Caçandoca, e os mesmos desataram o "congelamento da área."Tendo em vista que nesta área estão somente quilombolas, e mesmo assim fomos notificados, teremos o prazo de 15 dias para recorrer da sentença ou nossas casas irão abaixo,a comunidade de novo se desespera, sem saber qual será o nosso futuro, pois não temos como provar o tal "desacato".Assim esperamos que alguma luz ilumine Drª Mariza Vasconcelos, e tente resolver de forma pacífica este desentendimento, pois a comunidade está disposta a resistir, pois já cansamos de tanto desmando em nossa comunidade pelo poder publico.Temos sim um problema com um quilombola Sr Benedito Antunes de Sá, que acha que é proprietário da área, e fixou uma faixa (em anexo) tentando vender a mesma mais já foi notificado a retirar a faixa do local, mais não podemos pagar pela loucura dos outros.   Coordenador Geral da Federação de Quilombos de SPVice-Presidente do Quilombo Caçandoquinha.Mário Gabriel do Prado
12 97761197

quinta-feira, 16 de junho de 2011

CARTA DA VIVAT INTERNATIONAL À ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO EM APOIO AS COMUNIDADES TRADICIONAIS DO VALE DO RIBEIRA QUE REALIZAM SUA PRIMEIRA AUDIÊNCIA PÚBLICA 10 DE JUNHO DE 2011

Excelentíssimos membros da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, companheiros de luta e demais presentes à 1ª Audiência Pública das Comunidades Tradicionais do Vale do Ribeira.

            A realização deste evento é de fundamental importância não apenas para as Comunidades Tradicionais e para a região do Vale do Ribeira, como também para a discussão e definição de novos rumos na política paulista.

            Não é a primeira vez que Remanescentes de Quilombos, Indígenas, Caiçaras e um coro cada vez maior de cidadãos paulistas vêm pedir às autoridades do Estado o cumprimento mínimo de obrigações previstas tanto na Constituição Federal como na legislação de São Paulo.
            Tampouco é novidade a ínfima quantidade de recursos disponibilizados anualmente no orçamento estadual para estas populações. Apesar dos números recordes na arrecadação, a negligência do Estado para com ribeirinhos, caboclos ou indígenas permanece constante. No Estado mais rico da Federação, falta saneamento básico, habitação digna, atendimento de saúde qualificado, reconhecimento de terras e acesso a muitos outros bens e serviços elementares. Faltam alternativas econômicas viáveis para estes povos e seguem inexistentes planos concretos de inclusão social que respeitem seus modos de vida e de produção coletivos e tradicionais. Não cabe, portanto, falar-se em “reserva do possível” diante de um pretenso estágio de “mínimo existencial”, pois falta o mínimo à existência de tais cidadãos organizados em comunidades excluídas.
            Embora denominada primeira Audiência Pública das Comunidades Tradicionais do Vale do Ribeira, este evento, infelizmente, não traz nenhuma novidade substantiva. Mais de duas décadas após a promulgação da ‘Constituição Cidadã’, as autoridades – tanto Executivas quanto Legislativas – do Estado de São Paulo permanecem inertes aos direitos garantidos por lei a populações Indígenas, Ribeirinhas, Quilombolas, Caiçaras entre tantas outras. A locomotiva da nação, orgulhosa de seu protagonismo econômico e político, repete os mesmos erros do Governo Federal e continua negando a plena cidadania a milhares de seus cidadãos.
            Apesar dos incontáveis apelos feitos há décadas por movimentos sociais, associações locais, sindicatos e ativistas, o Governo do Estado segue praticando uma política que é, em larga medida, contrária não apenas às demandas dos povos tradicionais como também opostas a um efetivo desenvolvimento do Vale do Ribeira.
            Ditas “políticas de desenvolvimento”, as iniciativas governamentais ora ignoram completamente os interesses das populações mais necessitadas, ora facilitam a execução de obras e projetos que contribuem para a ampliação da exclusão social, para o enriquecimento de alguns poucos beneficiários e para a contínua marginalização política e econômica do Vale do Ribeira dentro do cenário paulista e nacional.
            Dentre os inúmeros flagrantes destas “políticas de desenvolvimento”, vale mencionar a conivência do Estado para com os planos de construção de barragens no rio Ribeira do Iguape e a política ambiental excludente promovida pela Secretaria do Estado do Meio Ambiente. Ambos os casos refletem o modelo retrógrado de proteção ambiental sustentado pelo Governo do Estado, a limitação das autoridades em lidar com os problemas estruturais do Vale do Ribeira e sua inaptidão em enxergar as inúmeras potencialidades da região e de seus habitantes.
            Em nome da proteção do meio ambiente, o Estado insiste em manter o contorno de parques e áreas de proteção ambiental que cerceiam os modos de vida e cultivo tradicionais e lançam as populações locais na ilegalidade. Incapaz de reconhecer a importância fundamental de Quilombolas, Indígenas, Caboclos, Pescadores e Caiçaras para a conservação da maior área contínua de Mata Atlântica existente, o Governo do Estado insiste na promoção de políticas ambientais “sem gente”. Avesso a todas as evidências históricas e na contramão do socioambientalismo que ganha seguidores em todo o mundo, o Estado de São Paulo ainda reproduz em suas políticas de desenvolvimento um ideal atrasado, baseado na idéia de que “meio ambiente” e “ser humano” são excludentes, e de que não há como proteger o primeiro sem impedir as ações do segundo.
            Porém, ao expulsar do território as populações que dele tiram seu sustento de forma harmoniosa há décadas – ou séculos –, o Estado não percebe que expulsa, também, os principais defensores de biomas tão ricos quanto frágeis. Sem alternativas, direitos e garantias mínimas de vida, Quilombolas, Indígenas e Caiçaras continuam sendo forçados a migrarem para os subúrbios das já superpopuladas cidades do Sudeste; enquanto isso, a Mata Atlântica é deixada à mercê de especuladores, e o ônus da proteção do meio ambiente se multiplica. 
            Como se não bastasse, a única alternativa encontrada pelo Estado para reverter este ciclo decadente, que parece condenar o Vale do Ribeira ao eterno subdesenvolvimento, parece ser o contínuo apoio a grandes obras, como as hidrelétricas sobre o rio Ribeira.  Conivente com a visão de uma minoria, o Estado acredita que as barragens trariam emprego, investimentos e recursos para uma região “pobre”. Com isso, ignora-se a visão defendida há anos por uma esmagadora maioria dos moradores e defensores do Vale do Ribeira: as barragens trariam apenas benefícios temporários, atenderiam, sobretudo, interesses privados e trariam riscos irreversíveis para uma região extremamente rica – ambiental, cultural e socialmente.
            O que as autoridades não percebem, no entanto, é que enquanto mantêm uma posição ambígua com relação às barragens, contribuem ainda mais para o aumento da insegurança dos povos tradicionais do Vale do Ribeira. Afinal, sem a definição legal do uso das terras, sem a correta titulação e regulamentação de territórios ocupados por caiçaras, pequenos agricultores, ribeirinhos, indígenas e quilombolas e com a contínua ameaça de construção de barragens sobre o rio Ribeira, torna-se impossível elaborar um plano de desenvolvimento sustentável e de longo prazo.
            Contudo, esta Audiência Pública pode servir como uma etapa fundamental de um novo momento na política paulista para o Vale do Ribeira e seus habitantes. Após décadas de reivindicações e anos de políticas mal-sucedidas, os governantes e legisladores do Estado de São Paulo têm a chance, hoje, de começarem a redirecionar os planos de desenvolvimento para a região do Vale de modo a atender àqueles que realmente necessitam ser ouvidos.
            O Estado de São Paulo foi pioneiro em diversos momentos da história brasileira. Não apenas o Estado encabeçou a modernização econômica do país, como também foi inovador em períodos constitucionais, decisivo em momentos revolucionários e formador de quadros importantíssimos que contribuíram para a consolidação de leis, direitos e políticas democráticas no Brasil. No que diz respeito aos direitos de povos tradicionais, São Paulo também foi pioneiro e inovador, ao ser um dos primeiros Estados da União a criar garantias legais para a defesa dos territórios e promoção social de povos indígenas e remanescentes de quilombos.
            Hoje, é hora de decidirmos de que lado estamos. Reunidos na Assembléia Legislativa do Estado, devemos nos perguntar sobre qual modelo de política queremos e que futuro desejamos para o desenvolvimento de sua região mais excluída.
·        Devemos seguir praticando uma política retrógrada, atrasada e particularista, que defende os interesses de poucos em detrimento da maioria?
·        Devemos continuar apoiando modelos de proteção ambiental que excluem a população mais diretamente ligada ao meio ambiente?
·        Devemos continuar negando serviços e direitos básicos às populações tradicionais?  
·        Devemos continuar defendendo planos difusos e de curto prazo para o desenvolvimento do Vale do Ribeira?
OU:
·        Devemos reconhecer a tradição pioneira de São Paulo e reverter o ciclo de subdesenvolvimento que impera no Vale do Ribeira?
            É hora de empenharmos a coragem que fez de São Paulo um Estado tão importante para afastarmos de vez o retrospecto de anos de hipocrisia perante a situação do Vale do Ribeira!
            Nenhuma das reivindicações feitas aqui é nova. E é nossa responsabilidade decidirmos se queremos continuar dando as costas para as demandas dos povos tradicionais do Vale ou se queremos enfrentar de frente os desafios desta região – e as incríveis possibilidades que ela oferece.
            É hora das autoridades paulistas deixarem de lado interesses privados e metas de curto prazo para, de fato, fazerem história. É hora de darem ouvidos e mãos à causa de Quilombolas, Caiçaras, Ribeirinhos, Indígenas, Caboclos, Pescadores e tantos outros cidadãos que formam os pilares da sociedade paulista; que são não apenas os principais protetores dos cada vez mais escassos recursos naturais deste Estado, como também os únicos guardiões de conhecimentos, culturas e saberes que são patrimônios essenciais de São Paulo.
            Em nome da Justiça, do cumprimento de direitos constitucionais dos povos tradicionais, dos direitos internacionais que detêm à consulta prévia, livre e informada e em nome do desenvolvimento socioambiental sustentável do Vale do Ribeira, apoiamos  todas as reivindicações feitas pelas Comunidades Tradicionais do Vale do Ribeira pelo Movimento dos Ameaçados por Barragens (MOAB), pela Equipe de Articulação e Assessorria às Comunidades Negras do Vale do Ribeira (EAACONE) e demais entidades civis representadas nesta audiência públic
            Entidade detentora de status consultivo perante o Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (ECOSOC) e associada ao Departamento de Informação Pública (DPI), do Secretariado da ONU, a VIVAT INTERNATIONAL continuará supervisionando as ações do Governo do Estado e São Paulo no que tange às políticas e decisões que venham a afetar as comunidades tradicionais do Vale do Ribeira. A VIVAT está ciente dos compromissos assumidos pelo Estado Brasileiro ao assinar a Convenção 169 da Organização do Trabalho bem como do apoio da missão brasileira do Brasil na ONU à Declaração Universal dos Direitos Indígenas e de Povos Tradicionais. Qualquer infração desses tratados que venha a ser cometida pelas autoridades paulistas será prontamente informada a organismos de arbitragem internacional.
Atenciosamente,
Felix Jones, Zélia Cordeiro
& Frederico Menino
VIVAT International
Conselho Econômico e Social das Nações Unidas
Departamento de Informação Pública do Secretariado da ONU
New York, 10 de junho de 2011

DOCUMENTO DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS DO VALE DO RIBEIRA PROTOCOLADO NA AUDIÊNCIA PÚBLICA – DIA 10/06/2011 ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DE SÃO PAULO “AS COMUNIDADES TRADICIONAIS DO VALE DO RIBEIRA DENUNCIAM A OMISSÃO E OPRESSÃO DO ESTADO”

          Nós das Comunidades Tradicionais do Vale do Ribeira (Indígenas, Quilombolas, Caiçaras, Caboclos e Pescadores), representadas nesta Audiência Pública por nossas Lideranças, trazemos aos Senhores Deputados e a população em geral, a situação de descaso e abandono, pelo poder público, em que vivemos, ameaçadas por leis e decretos que ignoram nossa cultura e tradição cerceando nossos direitos fundamentais de povos tradicionais que demos origem à região do Vale do Ribeira. Direitos estes já garantidos, na Constituição Federal e em tratados internacionais como a OIT. O  Governo do Estado de São Paulo vem atuando com uma política ambiental que é ultrapassada, é uma política de exclusão e medo, criando unidades de conservação de proteção integral se sobrepondo aos territórios das Comunidades Tradicionais e em conseqüência dizimando essas populações e causando grande impacto social e ambiental, pois este modelo de unidade de conservação, além de afetar as Comunidades Tradicionais não garante a preservação ambiental. Essa política é ainda utilizada pelas prefeituras como  impedimento para deixar de arrumar estradas, fazer reformas, construir pontes, levar energia...
            O Vale do Ribeira é a região do Estado de São Paulo que ainda preserva a Mata Atlântica. Quem a preservou? Fomos nós os moradores  das Comunidades Tradicionais. Hoje somos penalizadas por isso. Os Indígenas estão sem terra; os Quilombolas e Caboclos são multados a toda hora; os Caiçaras estão sendo expulsos da Juréia; os Pescadores que vivem da pesca artesanal estão sendo engolidos pela pesca predatória, enfim, somos tratados como invasores dentro da nossa própria casa que é o Vale do Ribeira, prova disso é o ICMS Ecológico que não é investido em Políticas Públicas para as Comunidades Tradicionais sem nenhuma cobrança e fiscalização do Estado. É urgente e se faz necessário uma mudança de paradigma na política ambiental do Estado de São Paulo, caso contrário estamos fadados a uma grande limpeza étnica no Vale do Ribeira.
Portanto, diante deste descaso do poder público apresentamos nos eixos abaixo citados nossa plataforma de proposta para construção de uma política pública com participação popular e inclusão social.
EIXO: DIREITOS SOCIAIS/TERRITÓRIOS
1. A não construção de 4 hidrelétricas no rio Ribeira de Iguape, sendo que uma delas, a de Tijuco Alto, irá gerar energia única e exclusivamente para a CBA – Companhia Brasileira de Alumínio. O rio Ribeira será privatizado para servir o Grupo Votorantim, enquanto isso nós Quilombolas, Ribeirinhos, Pescadores, Pequenos Agricultores sofreremos as desastrosas conseqüências geradas pela construção das barragens, como acontece em todo Brasil.
2. Os Caiçaras, Quilombolas, Indígenas, Caboclos não podemos desmatar 24 metros quadrados para uma roça de subsistência que somos multados, mas as barragens no rio Ribeira poderão inundar 11.000 hectares de Mata Atlântica.
3. As Comunidades Tradicionais vivem situações de extremo descaso pelo poder público. Escolas são fechadas, fazendo nossas crianças saírem de casa às 4h30m da manhã para tomarem o ônibus escolar, depois de caminharem vários quilômetros, ou ter viajado de barco em torno de 1 hora, sem a mínima proteção.

4. A Saúde nas Comunidades Tradicionais é um caos. Não funciona o PSF (Programa de Saúde Familiar), e quando há algum atendimento é muito precário. Os encaminhamentos para hospitais com mais recurso é muito demorado, mesmo quando o caso é grave. Nos Postos de Saúde falta remédio, médicos e um atendimento com dignidade. Somos mal atendidos porque somos da roça?

5. As estradas que dão acesso as Comunidades Tradicionais, na sua maioria são intransitáveis durante boa parte do ano. Neste ano já aconteceram vários casos de crianças que foram impossibilitadas de chegarem até a escola, o que as fez perderem muitas aulas correndo o risco de perderem também o Bolsa Família devido o número de faltas.

6. Outro grave problema ocasionado pela falta de estrada é o escoamento da produção. Muita produção se perde por não poder sair da roça. É bom lembrar aqui que a produção das Comunidades Tradicionais é toda orgânica.

7. Que o governo do Estado de São Paulo crie um Projeto de Lei estabelecendo Políticas Públicas para os Povos Tradicionais do Vale do Ribeira.

8. Que a Frente Parlamentar tenha uma Secretaria direcionada ao atendimento das Comunidades Tradicionais. O que acontece hoje é que a Frente está centrada nos partidos políticos e as articulações não acontecem, ou, se acontecem atendem aos interesses partidários.
JUSTIFICATIVAS DESTA PROPOSTA:
  • Que essa Secretaria seja um ponto de referência para as Comunidades Tradicionais.        
  • Que seja um veículo de socialização das informações com os Deputados da Frente Parlamentar.
  • Que os contatos das Comunidades Tradicionais com a Frente Parlamentar sejam via Secretaria.
  • Que a Frente Parlamentar crie um fundo com verba rubricada que esteja disponível para ajudar as Comunidades Tradicionais realizarem determinados eventos.
9. Que a Frente Parlamentar crie Emendas Parlamentares que atendam as principais  reivindicações das Comunidades Tradicionais.
10. Que a Frente Parlamentar proponha por meios legais, que as Escolas situadas nos Territórios das Comunidades Tradicionais, não sejam Municipalizadas.
11. Que a Frente Parlamentar proponha mudanças sobre a forma de qualificação dos Professores que atuam em Unidades Escolares situadas em Território das Comunidades Tradicionais.
12. Que a Frente Parlamentar contribua de forma efetiva na luta pela melhoria na  qualidade de vida das Comunidades Tradicionais.
13. Que o Governo Estadual cumpra a Lei e efetue, o mais breve possível, a retirada do território Quilombola, os ocupantes não Quilombolas.
14. Que o Governo retire as Unidades de Conservação dos territórios das Comunidades Tradicionais, pois as Unidades de Conservação invadiram seus territórios.
15. Que a Frente Parlamentar viabilize recursos para a manutenção das Balsas de acesso aos Territórios Tradicionais, pois fazem parte do patrimônio cultural.
16. Que a Frente Parlamentar viabilize a construção da ponte sobre o Rio Ribeira de Iguape, que ligará o bairro Batatal aos Quilombos Pedro Cubas 1 e 2 e demais moradores da Região.
17. Que a Frente Parlamentar articule a formulação de um Projeto de Lei para criação da Coordenação Estadual dos Povos Tradicionais conforme estabelecido no decreto 6040.
18. Que Frente Parlamentar crie um dispositivo legal que ampare as Comunidades Caiçaras.
EIXO: MEIO AMBIENTE COM GENTE
1. O Governo e muitas Entidades Ambientalistas querem transformar o Vale do Ribeira num grande “palco” para que os turistas que por aqui passarem, possam usufruir da grande beleza natural, mas esquecem que  há séculos vivem  aqui as Comunidades Tradicionais responsáveis pela preservação dessa natureza e que devem ser tratadas com dignidade e não como invasoras. Na verdade quem invadiu seu espaço foram as leis ambientais.
2. São muitas as Comunidades Tradicionais não tem energia elétrica. O Programa “Luz para Todos”, não foi para todos. Porque nos Parques pode abrir trilhas para turistas, colocar energia em seus núcleos de visitação e não pode fazer chegar a energia para os Caboclos, Indígenas, Quilombolas e outros?
3. Exigimos que o nosso modo de vida como Comunidades Tradicionais seja respeitado e reconhecido legalmente, como forma de conservação do Meio Ambiente, e não apenas os modelos criados nos gabinetes, como as Áreas Unidades de Conservação, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável e outros.
4. Que o sistema de coivara que as Comunidades Tradicionais sempre utilizaram e que comprovadamente protege a fertilidade da terra seja reconhecido legalmente como uma forma de conservação ambiental.
5. Que as Comunidades Tradicionais não precisem depender de licenças ambientais para a prática da sua cultura, para o plantio de arroz, feijão, milho, mandioca e hortaliças, desde que seja realizada no sistema de coivara.
6. Viabilizar por meios legais que a APA dos Quilombos do Médio Ribeira, criado com a Lei nº 2.810 de 21 de fevereiro de 2008, seja gerenciada pelos próprios Quilombolas.
JUSTIFICATIVAS DESTA PROPOSTA:
  • Por se tratar de um território particular.
  • Garantir o domínio e autonomia do território.
  • Contribuir na produção de alimento e na segurança alimentar dos Quilombolas.
  • Garantir que qualquer ação de Política Afirmativa, dentro deste território, os beneficiários serão os Quilombolas.
7. Que o Governo Estadual  mude a lei que criou a  Estação Ecológica de Juréia Itatins e desafete as Comunidades da Juréia  desta Unidade de Conservação de Proteção Integral, inserindo-as  em Unidades de Conservação de uso Sustentável – RDS - Reserva de Desenvolvimento Sustentável, garantindo a permanência  das Comunidades em seus territórios, conforme solicitação das mesmas.
EAACONE - Equipe de Articulação e Assessoria às Comunidades Negras
Prosa na Serra
MOAB - Movimento dos Ameaçados por Barragens
Comunidades Indígenas do Vale do Ribeira
Pescadores Artesanais – Vale do Ribeira
Associação dos Caboclos – Vale do Ribeira
Associações dos Remanescentes de Quilombos - Vale do Ribeira
Caiçaras – Vale do Ribeira


Eldorado, 10 de junho de 2011